MEDITAÇÃO DE EXPANSÃO
“O tipo de mente que temos depende do tipo de pensamentos que entretemos”.
Svāmi Paramārthānanda
Nesta meditação aprendemos a expandir a mente para apreciarmos todo este universo manifestado. Na meditação de expansão īśvara é todo o universo, viśva rūpa.
Normalmente, as nossas mentes estão muito limitadas por vivermos excessivamente centrados em nós, na nossa família, no nosso trabalho, nas nossas relações, no nosso corpo, etc. Naturalmente a mente ficará repleta de gostos e aversões (rāga/dveṣa) e acabará por tornar-se nossa inimiga. Olhamos para todas as pessoas e situações exclusivamente desde o nosso ponto de vista. Assim, pouco a pouco, o ego vai crescendo. E um ego grande distorce a nossa visão, exagerando a percepção que temos do mundo. Em muitas situações chegamos a pensar que somos o ser mais importante do mundo. Esperamos que tudo aconteça em nosso favor e quando surge algum problema ou dificuldade na vida, isto rapidamente se torna na maior tragédia do universo.
Esta é uma visão limitada. Esta mente limitada é um sério obstáculo a ātma jñānam. Cada coisa deve ser colocada em seu lugar. E percebemos o nosso lugar quando olhamos para nós desde o ponto de vista da totalidade. Assim, devemos dedicar algum tempo para pensarmos no Todo, apreciando este vasto universo sem nenhum motivo egoísta, esquecendo-nos por momentos da nossa individualidade.
Na prática, podemos mentalizar todo este universo com seus milhões de galáxias, estrelas e planetas, percebendo que cada um de nós é apenas um indivíduo de entre milhares de milhões de indivíduos, que vive num planeta que não é mais que um grão de areia no universo. Apreciamos a ordem, a harmonia que existe em todo este universo. Apesar de existirem tantas coisas no universo, tudo está em sintonia. Conectamo-nos com esta orquestra cósmica, conectamo-nos com o Todo. Não estamos separados deste vasto universo. Somos uma parte integrante do Todo. Somos um com o Todo. Isto é a meditação de expansão.
BENEFÍCIOS DA MEDITAÇÃO DE EXPANSÃO:
1º Satisfação
O simples facto de apreciarmos este universo manifestado dá-nos satisfação. Ser consciente deste Universo e poder apreciá-lo é um privilégio único do ser humano.
2º Receber as situações como prasāda
Ao apreciarmos todo este vasto universo percebemos que existe nele uma ordem, uma harmonia. Tudo funciona em sintonia. Percebemos que existem leis no universo e que são inevitáveis para manter esta ordem. Se existe uma ordem, uma inteligência que tudo permeia, tudo aquilo que nos acontece na vida não é fruto do acaso. Todas as situações pelas quais passamos, especialmente as mais difíceis, servem para crescermos espiritualmente. Quando compreendemos isto, recebemos todas as situações como prasāda, como um presente do Todo, rendendo-nos a esta ordem, sem resistência.
3º Aceitar a variedade
Existe, neste universo manifestado, uma variedade extraordinária de seres, de corpos, de personalidades. Não existe um corpo igual a outro, uma mente igual a outra. Quando ampliamos a nossa visão das coisas e percebemos a beleza que existe nesta variedade, aprendemos a aceitar tudo. Aceitamos e acomodamos este vasto e diverso universo na nossa mente.
4º Esta meditação ajuda-nos a reduzir dois tipos de problemas:
- Ahaṅkāra: o reclamar posse do corpo e da mente. Representado pela palavra “eu”. Exemplos: Eu fiz isto; eu sou bonito; eu sou inteligente; eu sou fraco; etc.
- Mamakāra: o reclamar posse dos objetos à minha volta. Representado pela palavra “meu”. Exemplos: A minha casa; o meu carro; o meu filho; o meu ipad; etc.
O ahaṅkāra e o mamakāra alimentam o nosso saṁsāra (vida de altos e baixos e sofrimento) com todo o tipo de pensamentos negativos como a ansiedade, o medo, a frustração, etc. Quando o “eu” e o “meu” estão presentes podemos contar com uma boa dose de ansiedade e preocupação.
5º Humildade
Se o próprio Sol e o planeta Terra são grãos de areia neste vasto Universo, o que dizer de nós e das nossas realizações pessoais? Assim, aprendemos a ser humildes.
6º Preparação para o autoconhecimento
Uma mente estreita nunca poderá ter o conhecimento de aham brahmāsmi (eu sou brahman, o Todo). Uma mente expandida é necessária para o conhecimento de si mesmo. Ao expandirmos a nossa visão das coisas o ego dilui-se. E quando o ego se dilui, os problemas que temos na vida não desaparecem, mas tornam-se insignificantes.
MEDITAÇÃO DE VALORES
Existe uma característica no ser humano que o distingue dos demais seres vivos: a liberdade de escolha, o chamado livre arbítrio. Uma vez que temos liberdade de escolha, as ações que decidimos realizar podem correr mal. Só quando existe escolha é que pode haver certo e errado. Num animal ou planta nada pode correr mal pois eles já vêm programados. Mas no nosso caso, como podemos escolher, tem que existir algo que paute as nossas ações. Esse algo é o dharma, uma vida de valores, uma vida ética.
Os valores éticos baseiam-se na apreciação do senso comum de como queremos ser tratados pelos outros. Esperamos que o mundo, nomeadamente os demais seres humanos, se comportem de uma determinada forma. Se esperamos isso, também nós deveríamos fazer o mesmo. Se não queremos que nos magoem também não devemos magoar os demais. Se queremos que nos falem a verdade, devemos também falar a verdade. A isto chamamos bom senso. E por isso os valores são universais, não dependem do país, cultura ou religião. Eles são válidos para todos os seres humanos.
Não precisamos de estudar as escrituras para sabermos o que é correto ou incorreto, dharma ou adharma. O nosso problema não é ignorância dos valores mas sim, a sua assimilação e aplicação. É para nós claro a forma como o mundo nos deve tratar. Já em relação à forma como tratamos o mundo é mais subjetivo, pois muitas vezes os nossos gostos e aversões (rāga/dveṣa) falam mais alto que os valores. Por vezes, os nossos gostos e aversões estão alinhados com o certo e o errado. Nesse caso não há problema. Mas muitas vezes não. E nessas alturas, as escrituras do yoga dizem-nos claramente para seguirmos aquilo que é correto, o dharma, mesmo que não seja do nosso agrado pessoal imediato.
Todos os textos recomendam valores a serem seguidos como qualidades a serem alcançadas pelos buscadores. Quando compreendemos que todos os valores, quando analisados, levam, em última instância, a apenas um valor, que é adquirir uma mente tranquila, a importância e a necessidade de seguir os valores podem ser apreciadas. De outra forma, os valores são meramente uma lista de mandamentos a serem seguidos, coisas que devem ser feitas e outras que devem ser evitadas.
Sempre que violamos algum valor criamos uma divisão dentro de nós. Surge uma divisão entre aquele que pensa e aquele que age. Cria-se uma dupla personalidade: aquele que sabe o que é correto e aquele que age incorretamente. Com esta divisão interna não poderemos chegar a lado nenhum, muito menos à paz mental.
Sem valores não há paz mental. Uma vida de valores pode não trazer-nos riqueza, mas sem eles nunca teremos paz mental. Podemos ter uma belíssima casa, com todos os luxos e mesmo assim não estarmos confortáveis connosco mesmos. Somos ricos mas estamos desconfortáveis, inquietos. Só uma vida de dharma nos proporcionará essa paz. E só com essa paz mental poderemos aprender vedānta.
A meditação de valores, também conhecida como meditação de transformação, é muito importante pois ajuda-nos a internalizar e a assimilar os valores éticos que o yoga propõe, valores que são universais.
Esta meditação ajudar-nos-á a transformar e a refinar a nossa mente. Isto produzirá uma grande transformação na nossa vida e nas relações que estabelecemos no mundo com os demais seres, uma vez que muda o padrão de pensamentos negativos para um padrão de pensamentos “dhārmikos”, feliz e construtivo. Sem uma mente com valores, o ensinamento de vedānta nunca se estabelecerá na pessoa.
Na prática, a meditação de valores funciona basicamente de duas formas:
- – Mentalizar o valor e refletir sobre a sua importância
Sentados na posição de meditação, escolhemos um valor como ahiṁsā (não-violência), satyam (verdade), kṣāntiḥ (aceitação) ou outro. Trazemos esse valor à nossa mente, refletimos sobre o seu significado e vemos de que forma a aplicação desse valor na nossa vida nos ajudará a crescer como pessoas.
Percebida a importância do valor vemo-nos dotados desse valor. Criamos cenários imaginários na nossa mente e neles colocamos em prática os valores que precisamos desenvolver. Podemos também mentalizar uma pessoa em quem reconhecemos determinado valor (ou valores), apreciar o seu comportamento e a sua forma de estar e inspirarmo-nos nela.
- – Pratipakṣabhāvanā
É o processo de aplicar conscientemente um sentimento de emoção oposto. Pensamos nas nossas fraquezas, como a raiva, o medo, o egoísmo, a culpa, a inveja, etc., e mentalmente observamos como esses pensamentos negativos perturbam a nossa paz mental e, por extensão, perturbam também aqueles que convivem connosco.
Identificada a fraqueza e suas consequências negativas na nossa vida, mentalizamos o sentimento oposto. Se sofremos de raiva, vemo-nos naquela situação onde normalmente a raiva surge, como sendo pessoas pacientes. Se medo é o problema, vemo-nos como pessoas corajosas, confiantes. E assim, pouco a pouco, vamos mudando o padrão de pensamentos.
Como diz uma sábia citação:
“Observa os teus pensamentos, eles tornar-se-ão as tuas palavras; observa as tuas palavras, elas tornar-se-ão as tuas ações; observa as tuas ações, elas tornar-se-ão nos teus hábitos; observa os teus hábitos, eles tornar-se-ão no teu carácter; observa o teu carácter, ele tornar-se-á no teu destino”.